sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Summer of Love, Parte XI-I

Parte XI
(primeira parte, mais tarde eu coloco o restante)


Subitamente um forte cheiro metálico empesteou o ar, invadindo nossas narinas. Vasculhamos o ambiente atrás da fonte do nauseabundo odor até nos depararmos com três adolescentes sentados em um canto penumbroso. Suas idades eram incertas, suas mãos eram trêmulas e seus olhos vidrados, perdidos em algum lugar inacessível. Um deles empunhava uma latinha de cerveja amassada que servia de apoio para que ele fumasse a sua preciosa pedra enquanto os outros disputavam a próxima baforada. Uma cena deprimente.

Andamos mais alguns metros e nos defrontamos com um outro adolescente (devia ter uns 14 anos, no máximo) sentado em uma cadeira de praia desfiada que ficou nos encarando (o adolescente, não a cadeira!). Passamos batido. Dobramos em um beco e encontramos dois caras, um de cada lado da esguia passagem. Um deles perguntou:
- E aí, mano?
- Arrã! Não dá nada... - respondeu Quico. Passamos pela segunda linha.
Mais adiante encontramos um quarto rapaz, mais mal encarado, fazendo questão de acariciar ostensivamente um reluzente revólver pendurado na cintura. Quico nos disse para esperar ali enquanto ele falava com o sujeito. Cumprimentou o cara, disse alguma coisa e apontou para o lugar onde estávamos. O homem nos olhou de cima a baixo com o cenho franzido e voltou a se dirigir ao nosso guia.
- Podem vir! - chamou Quico.

Adentramos o barraco impregnado de um cheiro curtido de suor, fumaça e resto de cerveja. A porta se fechou atrás de nós com um rangido e nos vimos cercados por meia dúzia de meliantes prontos para nos liquidar ao menor sinal de ameaça. Sentados em duas poltronas com o estofado em frangalhos, dois caras nos encaravam em silêncio, as fumaças dos cigarros suspensos pairando no ar. Havia outro olhando pela janela, ao lado de um fuzil encostado na parede, mais um em pé ao nosso lado e outro às nossas costas. Se quisessem poderiam ter nos matado ali naquela hora e ninguém nunca ficaria sabendo. Algum radio distante tocava a batida seca de um hip hop qualquer. Sentado em algo que vagamente lembrava uma mesa à nossa frente, o gerente (um neguinho baixinho mirrado com uma camisa de física surrada, várias correntes no pescoço, anéis tomando todos os dedos e brincando com uma pistola sobre a mesa) nos recebia com um sorriso malicioso que parecia dizer "Vinde a mim, criancinhas inocentes!".

Foi o Quico quem quebrou o gelo:
- Fala aí, Djalma, firmeza?
- Firmeza, maninho - e procederam um complexo cumprimento, com apertos de mão, puxa, solta, vira, bate, volta, etc.
- E o neguinho Mauro, não tá aqui hoje?
- Nego Mauro vai dar um tempo. Levou uma azeitona nas idéias e vai ficar um tempo baixado. O negócio agora é comigo em tempo integral, tá ligado?
Quico fez as devidas apresentações, falando que éramos de Porto Alegre e íamos passar um tempo na ilha. Quando soube que éramos do RS, o neguinho se empolgou e disse que tinha família lá também: "Dona Elmira, dos cabritos, conhece? Não?". Não conhecíamos, óbvio.
Finda essa amistosa introdução, o baixinho perguntou o que nós procurávamos.
- A gente queria uns 100 pila... - disse Alex.
- Da preta? - interrompeu Nego Djalma.
- Da preta, da preta...
- Pra mim bota 20 - falou Quico - mas bem servido. E sem mistura, porque chazinho eu compro na farmácia.
Com o pedido, Djalma soltou um riso estridente.
- Hahaha! E alguma vez eu te botei bagulho bichado, maluco?
Entregamos o dinheiro e o neguinho tirou da gaveta da "mesa" nossas bem servidas porções. Conferimos, elogiamos, agradecemos e nos retiramos sob o olhar atento dos capangas.

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