quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Summer of Love, Parte VII

Parte VII


O lugar era inacreditável, pra dizer o mínimo. Mas inacreditável no bom sentido, fique claro. O negócio era que uns tios do Fatt tinham uma casa na praia de Ingleses, em Florianópolis, e estavam nos emprestando por três semanas em Janeiro. Estavam se separando e não tinham decidido quem ficaria com a casa, coisa e tal. Iam colocar pra alugar naquele verão, mas só a partir de fevereiro. Nós aceitamos a oferta, é claro.

O "nós" a que me refiro eram 11 pessoas unidas por algum grau de afinidade. A princípio íamos só nós quatro (o Fatt, o Cabeça, o Cabeludo e eu) e duas meninas (a Pati, que o Fatt já convidou con segundas intenções, e a Adri, uma amiga), mas, sabem como é: notícia de férias na praia (ainda mais grátis) corre rápido, e logo chegamos ao número de 11. Numa quinta-feira ensolarada partiu a primeira leva: O Fatt, o Cabeludo e as duas meninas no Golf 2000 do pai do Fatt. Eu, o Cabeça, o Bola e o Alex (amigos de outros tempos) no meu valente VW Fusca 1980. O resto de pessoal chegaria na sexta e no sábado, de busão mesmo.

Com 26 anos, Alex era irmão do Bola e o mais velho de nós. Vagabundo nato e uma espécie de guru e mentor para todos (tendo sido, inclusive, responsável por nos introduzir no maravilhoso mundo dos estados alterados de consciência, mas aí é outra história), conseguiu (ainda não sei como) um emprego bem remunerado na fábrica da GM. Infelizmente (para a GM) e felizmente (para ele), descobriu poucos meses depois que tinha um seríssimo problema de coluna. Três meses de afastamento, três pinos de titânio na coluna e uma despesa médica de $40 mil para a GM. A partir daí, Alex trabalhava dois ou três meses e voltava a se afastar por mais dois ou três meses com salário integral. Por um incrível acaso do destino, aquelas nossas férias coincidiram exatamente com um desses períodos de afastamento dele. Nosso guru, sem dúvida.

Passamos a maior parte das dez horas de viajem rindo das histórias bizarras das barranqueadas do Alex. Ele jurava de pés juntos que tinha sido seduzido por uma juíza durante uma audiência no fórum.
- Como é que ela te seduziu durante a audiência?????
- Cara, uma coisa de louco. A mulher tem uns 40 anos mas tá inteiraça. Ganha de muita guriazinha de 20...
- Como é que tu sabe?? Tu nem viu direito a mulher. Viu, no máximo, o pescoço...
- Cara, é sério! Ela se virava pra falar comigo e a blusa dela parecia que ia estourar. Ela me olhava nos olhos com um olhar... como é que se diz... Lascivo!
- Ah, pára!
- Conta outra!
- Vocês sabem que eu não ia mentir pra vocês! Vocês são os filhos que eu ainda não tive! Olha pra mim. Olha nos meus olhos e diz que eu tô mentindo.
- Tu tá mentindo! - dissemos os três.
- É sério, cara! Depois ela até me chamou no gabinete dela... Maior intimidade...
E assim passamos 10 longas horas. Dentro do Fusca, os 40 graus que fazia na rua pareciam multiplicados por 3. Os buracos da estrada, com a cansada suspensão do meu besouro, pareciam ter uns dois metros de profundidade. O característico motor barulhento do velho VW deixava todos praticamente surdos, de modo que nos comunicávamos quase gritando. Poucas experiências na vida são iguais a uma boa viajem de Fusca...

Quando finalmente chegamos no lugar, já no começo da noite, tivemos um breve vislumbre do que poderia ser um pequeno paraíso particular. A casa do tio do Fatt ficava na beira da praia. Não a uma rua da praia. Literalmente na beira da praia. Tipo assim: mar, areia, uma mureta de meio metro de altura, grama, e a nossa casa. Uma coisa inacreditável. O Fatt tinha chegado umas duas horas antes de nós e já nos esperava com uma caipirinha. Depois de horas apertados dentro do carro, qualquer bebida seria como champagne para nós. E não era só isso. O lugar estava cheio de lindas catarinenses desfilando nos tradicionais trajes mínimos de verão. Definitivamente, um vislumbre do paraíso.

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