segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Sobre como meu vô dormiu milionário e acordou remediado

Enquanto o restante da história não fica pronto, uma outra historinha curtinha, pra distrais...


O meu Vô ganhou na loteria uma vez, muitos anos atrás!!!

O negócio foi o seguinte:
O velho ligou o radinho a pilha colado no ouvido para conferir o resultado da loteria e ia circulando com uma caneta os números que tinha acertado. Quando viu que tinha circulado todos, esfregou os olhos, conferiu novamente a cartela e gritou: "Mulher! Tamo rico! Ganhei na Loteria!!". E foram os dois conferir os números. Era isso mesmo, tinha acertado todos. Risadas, gritos de alegria e muitos planos! Comprar uma casa maior, no centro da cidade, aquele sítio que tanto cobiçavam, uma casa na praia, talvez. Imagina a cara do Alcides quando soubesse! (Alcides era o irmão rico da família que sempre se gabava por ter um Opalão novinho na garagem.) O Alcides ia morrer de inveja! A vizinhança logo soube e foi em peso cumprimentá-lo. Ligações para os filhos, sobrinhos, cunhados e logo marcou uma grande festa para o dia seguinte, um domingo, no almoço. Foi ao bolicho da esquina e já saiu contando a novidade, pedindo pra pendurar umas bebidas, carne para o churrasco do outro dia, uma rodada para os pinguços...


No domingo a família chegou cedo para o almoço. Parentes distantes, vizinhos, amigos e até algum desconhecido que estivesse passando pela rua comeram do bom e do melhor, exceto pelo Alcides, que ficou emburrado em um canto e foi embora sem nem ao menos tocar na sua picanha. Muita fartura, bebida, música e coisa e tal... O almoço estendeu-se até a noite.

Na segunda-feira cedinho meu avô pôs o chapéu na cabeça e avisou: "Me vou a Porto Alegre!". Ia receber o prêmio.

Lá pelo comecinho da noite, quando o sol já se escondia no horizonte, chega ele, casaco novo, de couro, mas com o olhar perdido, cabisbaixo. "O que foi, meu velho?" perguntou a minha vó procurando a mala abarrotada de dinheiro. "Uma desgraça, uma desgraça..." respondeu ele sem erguer a cabeça.

O caso é que o prêmio tinha sido de um valor baixo (tipo uns $30.000 nos dias de hoje). "Bem... Tudo bem, $30.000 não é exatamente o que esperávamos, mas já é uma boa ajuda. Mas onde está esse prêmio?", perguntou minha vó. "Calma, não é tudo..." ele respondeu. Não bastasse o baixo valor, naquela semana houve muitos acertadores, que dividiram aquele pequeno montante.

Por fim, com o valor que ganhou, meu vô pagou a conta no bolicho, e, com o que sobrou, comprou o casaco que vestia. Colocou o casaco num cabide, deitou a cabeça no travesseiro, fitou o casaco pendurado na penumbra e antes de dormir ainda comentou: "Mas vê se não é um belo dum casaco mesmo, minha velha...!"

E foi assim que meu vô acordou milionário e dormiu remediado!
E aconteceu mesmo, quando eu era pequeno!

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